Vacina H1N1: riscos e reações alérgicas

Vacina H1N1: riscos e reações alérgicas

Uma nova doença causada por vírus influenza (chamada inicialmente de gripe suína) tomou as manchetes de jornais em 2009, em grande parte devido à suspeita de que poderia ser particularmente letal. As informações iniciais, divulgadas por autoridades do México, país onde eclodiram os primeiros casos, sugeriam que esse novo influenza seria muito mais grave que o nosso velho conhecido sazonal, que a cada ano faz mutações e nos obriga a tomar uma nova dose de vacina.

De fato, há algum tempo infectologistas alertavam para a possibilidade do surgimento de algum vírus agressivo, como o da gripe espanhola, que apareceu com toda a força no final da Primeira Guerra Mundial e se espalhou mundo afora devido às novas facilidades de transporte transcontinental. Quando se descobriu que o novo vírus era um H1N1, o mesmo agente da pandemia de 1918, tivemos a impressão que o fantasma sombrio, responsável por tanto sofrimento, estava de volta.

Felizmente, ao transpor as fronteiras mexicanas, a gripe influenza (em inglês, “flu”) se mostrou bem menos assustadora, a ponto de serem organizadas, nos EUA, as “festas de gripe suína”, para que as pessoas adquirissem imunidade de uma vez por todas para o famoso vírus.

Nem 8 nem 800. Da mesma forma como a gripe sazonal, que só nos EUA está relacionada a mais de 20 mil fatalidades (em sua maioria idosos e crianças pequenas), o vírus H1N1 tem levado algumas pessoas à morte, com uma característica peculiar: o Centro de Controle de Doenças americano (CDC) estima que por volta de 90% dos casos graves ocorreram em pessoas com idade inferior a 65 anos.

Adultos jovens, crianças pequenas e portadores de doenças crônicas (ou seja, prolongadas) apresentariam chance maior de ter uma evolução desfavorável com a gripe H1N1, que conta, desde 2010, com a nova vacina, principalmente direcionada para os grupos de risco. Apesar dos idosos terem menor probabilidade de contrair o vírus, aqueles que desenvolvem a doença se mostram também mais suscetíveis à hospitalização e complicações.

Vale lembrar que nem sempre sintomas nasais significam infecção viral. Quadros de rinite são muitas vezes interpretados como os de uma doença gripal (lembrar que a gripe verdadeira costuma ser acompanhada de febre). Coriza, espirros e obstrução nasal são sintomas bem conhecidos das pessoas com alergia. Mesmo assim, em lugar do uso de antialérgicos adequados, a automedicação tende para os remédios que têm a palavra “gripe” ou “grip”, geralmente coquetéis de remédios ultrapassados.

Com a chegada da vacina, novas considerações foram colocadas na pauta do dia e, como se previa, poucas têm algum respaldo científico. A suspeita de que reações alérgicas poderiam ocorrer com maior intensidade após sua aplicação não tem fundamento. Pessoas que tiveram episódios quase-fatais (chamados de anafilaxia grave) após ingestão de ovo não devem receber a vacina, é verdade, mas os alérgicos com sintomas respiratórios intensos (como a asma, ou “bronquite”) pertencem exatamente ao grupo de risco e precisam ser vacinados.

Conservantes utilizados em vacinas (como o timerosal) também podem desencadear reações alérgicas, ou irritações no local da aplicação. Também não foram relatadas reações nesse sentido que justifiquem o abandono da vacinação.

Outra sombra que recai sobre a vacina diz respeito à possibilidade de desenvolvimento da Síndrome de Guillain Barré (uma paralisia neurológica grave). Este quadro também é considerado uma autoagressão imunológica, mas não faz parte das reações alérgicas. Os quadros desta síndrome apareceram após a vacinação de 1976, para gripe aviária, na proporção de um a cada 100 mil doses. Esses números não se repetiram com a nova vacina H1N1. Mesmo assim, pululam sites na internet dizendo que a doença foi “inventada em laboratório” e que a “vacina mata mais que o vírus”.

Produzir, de forma malévola, um vírus eficiente dentre as infinitas possibilidades de combinações gênicas demandaria um investimento astronômico em uma unidade de trabalho com dezenas de pessoas, além da improvável capacidade de manter todos os envolvidos em silêncio. Na União Soviética de Stalin talvez isso fosse possível.

Uma informação importante: não há vírus inteiro dentro da vacina; logo, não é possível contrair a doença com a vacinação. Febre e malestar estão principalmente relacionados à produção de anticorpos pelo nosso organismo. Afinal, a vacina “finge” que uma doença está acontecendo para que nosso corpo se coloque a postos.

Também têm indicação de serem vacinados os indivíduos portadores de doenças cardíacas, renais, endócrinas (como diabetes) e com algum grau de deficiência imunológica (como AIDS e câncer), assim como as mulheres grávidas.

Vacina é como um cinto de segurança. Talvez não precisemos dele ao longo de uma vida inteira. Talvez alguém relate casos em que ele teve um papel negativo. Como se não bastasse, uma legião de pessoas torcem o nariz por serem obrigados a usá-lo. Enquanto isso, vidas são salvas e hospitalizações são evitadas.

Dr. Raul Emrich Melo
Postado originalmente no site tratandoalergia.com.br