A alergia é exclusiva de cidades grandes poluídas?

A alergia é exclusiva de cidades grandes poluídas?

Quando decidi iniciar o atendimento em Guaxupé, na área de Alergia-Imunologia, equilibrando minha agenda com a Unifesp e o consultório de São Paulo, recebi a seguinte pergunta: “– Mas existe Alergia no interior? Não é só em cidade poluída?”.

De fato, por muitos anos esse foi o pensamento corrente, inclusive entre especialistas: “– Saia desta cidade grande e você passará melhor…”.

Ocorre que os estudos populacionais de Alergia, realizados a partir dos anos 1990 em muitos países do mundo (e também por aqui), mostraram uma realidade muito diferente do dito popular. Sim, o interior do Brasil apresentava razoável quantidade de alérgicos e, de forma surpreendente, algumas cidades costeiras (como Belém e Salvador) tinham números de Alergia até maiores que os de São Paulo.

Rinite, conjuntivite, asma (também conhecida como “bronquite”) e dermatites de fundo alérgico passaram a infernizar os brasileiros de diversas faixas etárias em uma proporção que não era conhecida 100 anos atrás, quando pela primeira vez um suíço criou a palavra Alergia, com o significado de “reação alterada”.

Não há uma explicação única para o fato da Alergia ter aumentado e se espalhado por todo o mundo como se fosse uma epidemia. Talvez seja até o preço que pagamos por viver em uma sociedade mais organizada, com comidas práticas e industrializadas, menos infecções graves atingindo as crianças e menos contato com as contaminações provenientes de animais.

A partir da queda do muro de Berlim, no fim dos anos 1980, estudos na Alemanha e na Escandinávia mostraram que filhos únicos que viviam longe de estábulos eram mais alérgicos que crianças de família numerosa da fazenda. A explicação: fezes de animais estimulariam positivamente o sistema imunológico, assim como as infecções e contaminações entre irmãos da mesma casa.

A máxima “o que não mata, engorda” até faz sentido, neste contexto, mas a verdade é que não devemos mais admitir um leite não pasteurizado, por exemplo. Não vale a pena correr o risco. Talvez por isso nossa chance de ter Alergia tenha aumentado. Aceitamos o “engorda”, mas não o “mata”.

Qual a solução, já que nem todos vão querer morar em uma fazenda, ou produzir muitos herdeiros? Bem, ter um estilo de vida saudável e, quando a Alergia incomodar, tratar adequadamente, com o que melhor temos à disposição na atualidade, além de usufruir de um bem interessante: a informação. Afinal, existem algumas vantagens em se viver em pleno século XXI, não é mesmo?

Dr. Raul Emrich Melo