Sinusite é um desses termos que passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia. Está presente em conversas de todo tipo, em todos os níveis sociais. E boa parte das pessoas já têm uma idéia bem formada sobre um quadro clínico que pode envolver uma região interna da nossa face (como uma das maçãs do rosto, por exemplo) e vem acompanhado de dor, febre, tosse e mal-estar. Só que estas manifestações são apenas uma das maneiras da doença aparecer nos adultos e, para os médicos, o termo sinusite (ou sinusopatia – doenças dos seios da face) é amplo e vago; principalmente no que diz respeito às crianças.
Quando pais ficam confusos e relatam que ouviram médicos fazerem comentários totalmente contraditórios, como “não existe sinusite em crianças” e “crianças têm várias sinusites por ano”, temos uma idéia de como podem existir interpretações diferentes sobre o tema.
Nossa mucosa respiratória – o revestimento interno do nariz, seios da face, garganta, brônquios – é como um carpete com minúsculos pêlos que batem sem parar. O revestimento mucoso continua nos seios da face, cavidades com saídas estreitíssimas que desembocam no nariz. Assim, a secreção produzida diariamente (nossa mucosa libera um copo de secreção todos os dias) é lentamente engolida e passa despercebida. Junto com a secreção, anticorpos de prontidão estão a postos para grudarem em bactérias, vírus ou ítens potencialmente perigosos. Este processo não acontece à toa. É a primeira linha de defesa do nosso corpo. Vapor de água, poluição, esporos de plantas, decamação de animais e de insetos fazem parte das partículas que chegam pelo ar e caem na mucosa úmida, o ponto de contato das substâncias inaladas que acabarão, na grande maioria, por serem deglutidas, digeridas e eliminadas.
Mas nem sempre as coisas funcionam de forma tão tranqüila. Quando há uma razoável agressão respiratória, fato comum numa gripe (doença viral causada pelo vírus influenza – veja artigo sobre vacina de gripe neste site) ou resfriados comuns (causados por variados vírus respiratórios menos graves), existe inchaço (edema) na mucosa e aumento na produção da secreção, que também pode se tornar mais espessa devido à liberação de substâncias de defesa. Neste caso, já podemos nomear este quadro, tecnicamente, como rinossinusite viral, pois, em termos práticos, a mucosa dos seios da face é a continuação da mucosa nasal. A produção mais intensa de secreção acaba por não fluir facilmente e tomamos consciência de que existe uma mucosa que não está bem.
O edema também acontece quando a mucosa é agredida pelo próprio organismo da pessoa alérgica. Afinal, a alergia é um processo de auto-lesão devido ao equívoco do sistema imunológico de quem nasceu com essa falha genética. Algumas pequenas substâncias, que passam então a serem chamadas de alérgenos – como o pêlo do gato ou fezes dos ácaros – são inofensivas para a maioria da população. No entanto, na mucosa do alérgico, estimulam esta auto-agressão da mucosa da via respiratória alta, chamada de rinossinusite alérgica. O inchaço acaba muitas vezes por ocluir as pequenas saídas dos seios da face, levando ao aumento da pressão e dor local. Ainda não há pus (ou secreção purulenta, situação que normalmente é tratada com antibiótico) e, mesmo assim, há dor e mal-estar. A tosse também pode ocorrer, pois a mucosa (principalmente da garganta, mas também a dos seios da face) tem receptores que, ao serem estimulados, desencadeiam o sintoma.
É comum o pensamento de que só vamos melhorar se todo a secreção for eliminada, colocado para fora do nosso corpo. Expelir a secreção pode até trazer um alívio momentâneo, mas a questão principal é voltar a produzi-lo em quantidade normal. Quando a alergia está envolvida, a medida mais efetiva será utilizar medicações que diminuam o processo de auto-agressão. Os anti-histamínicos (conhecidos como “antialérgicos”) mais antigos, no entanto, além dos efeitos colaterais de sedação e aumento de apetite, podem deixar a secreção mais espessa. Isto pode complicar a rinossinusite.
O corticóide (também chamado de “cortisona”) pode ter um papel importante na diminuição do inchaço que obstrui a saída dos seios da face. Estudos recentes mostraram que até o corticóide utilizado localmente, no nariz, pode ter uma ajuda decisiva no tratamento.
Já sabemos, portanto, que na evolução de um quadro de rinossinusite viral e/ou alérgica, a mucosa pode ficar muito inchada e a secreção espessa. Os seios da face, que já apresentam normalmente algumas bactérias em equilíbrio no seu interior, têm suas saídas obstruídas. Um “caldo morno” e isolado tornou-se, então, propício à proliferação de bactérias, produzindo um aumento ainda maior da sensação de pressão e dor. A secreção, com pus e bactérias, escapa e desce pela garganta – que se torna mais sensível e dolorosa – produz mau hálito e piora a tosse seca. Em pacientes que apresentam asma (ou “bronquite”) a tosse pode se tornar “cheia” (ou, no jargão médico, tosse produtiva) e a crise de falta de ar pode sair do controle. Este é um contexto em que muitas vezes o médico receitará um antibiótico adequado, diminuindo assim o tempo de doença e sofrimento.
Então, voltamos àquela questão difícil: criança tem várias sinusites, ou, pensando melhor, não existe sinusite em criança?
Se pensarmos na rinossinusite como um diagnóstico amplo, que pode ser causado por alergias, irritação ambiental, vírus e bactérias (além de outras causas raras), podemos dizer que, apesar de alguns seios da face nas crianças pequenas ainda não estarem formados, este processo ocorrerá diversas vezes ao ano. Afinal, é uma época da vida em que os vírus respiratórios (até dez por ano) levam os pais à beira do desespero. Por outro lado, se o pensamento recai sobre o quadro isolado de sinusite bacteriana que acomete, por exemplo, apenas uma das maçãs do rosto (região chamada de seio maxilar, pelos médicos), a conclusão é de que esta forma de apresentação é típica dos adultos