O leite materno é o melhor alimento para a criança que acaba de nascer, não só em termos nutricionais, mas também no aprofundamento da relação mãe-filho e na prevenção de alergia. Dizer isto é quase uma redundância nos dias atuais, mas ao longo da história humana (e até há bem pouco tempo) existiam muitas opiniões desencontradas.
Antes da invenção da pasteurização – que tornou mas segura a ingestão do leite de vaca – uma opção era a requisição dos serviços de uma ama de leite, que muitas vezes deixava de amamentar adequadamente o próprio filho. Sem uma mãe substituta, a introdução precoce de variados alimentos resultava em taxas impressionantes de mortalidade infantil. Por volta de 25% das crianças pereciam no primeiro ano de vida e, em algumas regiões, como na Irlanda, até 90% das crianças morriam devido a infecções intestinais. Até o século XIX, a amamentação significava sobrevivência.
Mesmo assim, o ato de dar leite ao filho passou a ser considerado pouco elegante e potencialmente lesivo ao corpo da mulher. Mitos, como o do “leite fraco”, tomaram força e, com o surgimento do leite em pó, no século XX, até pediatras passaram a recomendar a novidade, em detrimento do leite humano. É verdade que, na ausência do leite materno, as novas fórmulas infantis devem tomar o lugar na alimentação dos bebês de poucos meses de vida, com a vantagem de serem mais bem digeridas e enriquecidas com ferro e vitaminas, tanto que a Organização Mundial de Saúde orientou o abandono do uso do leite de vaca integral nesta faixa etária. Mas outros desafios surgiram.
Com a queda dos índices de amamentação, associada ao novo modo de vida ocidental, registraram-se cada vez mais casos de alergia ao leite de vaca, pois ele possui proteínas que podem atravessar facilmente a barreira do intestino, tomar a circulação e induzir bem cedo na vida do bebê uma “memória para alergia”. Muitos fatores têm contribuído para este contexto: urbanização, industrialização (com papel cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho) e o aparecimento do leite em pó com sua eficiente propaganda. Em recente estudo da UNICEF, um terço das mães acreditava que o leite artificial era igual ou melhor que o leite materno.
A situação não é simples, pois junto com a culpa de não conseguirem amamentar adequadamente seus filhos, muitas mães agora têm que lidar com quadros de alergia que podem ser desde cólicas e vômitos até problemas respiratórios, infecções e internações.
Não custa lembrar: aleitamento materno significa mais saúde. Mas ainda estamos longe do nível de bem-estar social escandinavo que permite um ano de ausência do trabalho para a mulher que amamenta. A fórmula hipoalergênica, adequadamente indicada por um médico, pode ter então um papel na prevenção de alergia alimentar, quando introduzida desde o primeiro momento em que uma criança de família alérgica passe a não ter condições, por algum motivo, de seguir com o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade.